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Como funciona uma avaliação – Parte 3

Para ver as primeiras partes desse artigo, clique 1 e 2.

Na última parte desse artigo falamos sobre duas características essenciais para a avaliação: aparência e aroma. Agora, vamos abordar as outras três características que devem ser observadas na cerveja e suas principais nuances:

Sabor

Essa é a principal característica de uma cerveja. Afinal, ela é feita para ser bebida e saboreada. Ao beber a cerveja, muitas são as sensações e, dependendo da complexidade da cerveja, muitos são os sabores que se apresentam. Nesse momento, buscamos identificar primeiro a presença dos elementos básicos da cerveja, o malte e o lúpulo, tanto em suas quantidades inseridas no conjunto quanto nas qualidades e variedades, e buscamos os demais elementos na sequência.

O conjunto de maltes é a “base” da maioria das cervejas. Para os que ainda não estão habituados a degustar e avaliar uma cerveja, eu recomendo que faça a seguinte experiência: analise três cervejas diferentes: uma standard lager (cerveja de mercado que você compra para o churrasco), uma premium lager (se possível, a mesma marca escolhida na standard) e uma cerveja puro malte (dê preferência a uma micro cervejaria, que apresentará melhor a característica dos maltes pelo método de produção). Comparando essas cervejas, você notará uma diferença de sabor, onde é sentido melhor no paladar uma presença que lembra cereal. Esse sabor é do malte, e sua presença e qualidade, dependendo do estilo da cerveja, são consideradas na avaliação. Além disso, os efeitos e níveis da torrefação do malte são percebidos no paladar, e devem estar bem inseridos no conjunto e dentro do estilo proposto.

O outro elemento, o lúpulo, vai conferir à cerveja uma de suas mais importantes características, o amargor. O nível de amargor da cerveja (que possui uma medida oficial, o IBU – International Bitterness Units) irá variar de acordo com a quantidade, qualidades e método de adição do lúpulo. Além disso, algumas características de sabor também são conferidas pelo lúpulo, como os sabores mais cítricos. Algumas cervejas, como as India Pale Ales e as Russian Imperial Stout, recebem uma adição muito alta de lúpulo, fazendo com que a cerveja tenha um nível de amargor também muito alto, e o grande desafio é fazer com que esse amargor esteja bem inserido e não desequilibre a cerveja. Entretanto, as cervejas com muito lúpulo possuem muitos adeptos, os chamados lupulomaníacos (os “hopheads”) e muitas cervejarias são conhecidas pelas cervejas super lupuladas, onde mesmo nos estilos que normalmente não possuem tanto amargor são adicionadas quantidades consideráveis de lúpulo.

Além desses elementos, outros ingredientes adicionados durante o processo de produção são percebidos no paladar, como frutas, temperos e todo tipo de materiais que podem compor a cerveja. O processo e local de maturação (barris de madeiras distintas) também influenciam no sabor da cerveja.

Esse quesito, devido a importância, é julgado de 0 a 20. A nota aumenta de acordo com a aderência do sabor ao estilo proposto, a presença dos elementos principais, o quão balanceada a cerveja é, como é seu final, além de outras características que tornem o sabor da cerveja agradável.

Tato

O tato é uma das características ligadas a degustação, onde através das sensações sentidas pela boca analisaremos qualitativamente a cerveja. Dividimos as sensações táteis em algumas categorias:

Corpo: está relacionado à viscosidade da bebida. Para termos uma fácil comparação, podemos dizer que a água tem corpo leve, e uma gemada tem corpo denso, ou seja, quanto mais viscosidade tiver a bebida, maior será o corpo, e quanto mais aderente for ao estilo proposto, melhor.

Carbonatação: é a quantidade de gás carbônico que a cerveja possui, e proporciona uma sensação mais “frisante”. Alguns estilos possuem maior carbonatação naturalmente, como as Fruit Lambic ou as Gueze, outras nem tanto, como as Barleywines. Por alguns, essa característica é chamada “crocância”.

Adstringência: essa característica é difícil de ser definida, mas podemos dizer que é a sensação da boca “seca”, a reação dos taninos da cerveja com a língua. Geralmente caracterizada como tenra, adstringente, muito adstringente ou cortante, quanto maior a adstringência.

Percepção alcoólica: é o quanto transparece a presença de álcool da cerveja na degustação. Quanto maior a graduação alcóolica, maior a potência que a cerveja tende a ter, fazer com que uma alta graduação alcóolica seja “camuflada” por outros elementos e não se torne muito forte é um ponto positivo em relação ao tato.

Esse quesito é julgado de 0 a 5, tendo novamente como base o estilo proposto e quão agradável foi a cerveja na boca.

Conjunto

Por fim, analisamos se a cerveja por completo agradou, se realmente é uma breja bem feita e quão prazeroso foi a degustação. Um dos fatores analisados para falar do conjunto é a drinkability. A drinkability nada mais é que a “vontade de beber mais uma”. Algumas cervejas, devido ao estilo, são mais pesadas, o que diminuem a capacidade de serem bebidas em sequência, ou seja, sua drinkability é naturalmente baixa, mas esses casos são levados em consideração na avaliação.

Esse último quesito é julgado de 0 a 10, sendo uma avaliação geral da bebida e a nota dada para o conjunto de todos os elementos apresentados.

Bom, terminamos aqui de falar das características e elementos que devemos levar em consideração durante uma avaliação. Na próxima e última parte desse artigo, iremos dar dicas de como realizar uma degustação e faremos uma avaliação por completo. Não percam!

Cheers!

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