Salve Brejeiros!
“Escola Americana NÃO EXISTE!”
Entre os cervejeiros, fãs da cultura cervejeira e sua história no mundo, muitos sustentam um discurso discordante quanto à nomeação dos Estados Unidos como uma escola cervejeira. Obviamente não se discute a influência dos Estados Unidos hoje no mercado da bebida, tampouco a qualidade das cervejas produzidas no país, ambos de representatividade ímpar quando o assunto é cerveja nos dias de hoje. O ponto levantado pela frente, digamos, tradicionalista, é que a escola cervejeira americana apenas criou versões de estilos já feitos pelas demais escolas, alterando apenas parte do processo de execução, variedade e principalmente a quantidade de elementos, ou seja, é uma “intérprete”, não uma verdadeira escola.
Os argumentos são válidos para os dois lados, os defensores e os tradicionais, mas é inegável que os americanos merecem um capítulo a parte, pois hoje são discutivelmente a maior influenciada nova geração de cervejeiros, além de favorita entre os mais fascinados, principalmente os “BeerGeeks”.
Os Estados Unidos foram colonizados pelos ingleses, e populados por imigrantes europeus ao longo dos séculos XVI a XIX, que traziam consigo os costumes de sua terra natal, entre eles o hábito de fazer cerveja. E foi no final do século XIX nos Estados Unidos que começaram a surgir, através do advento do fermento Lager vindo da Alemanha, as primeiras experimentações de cervejas lagers americanas. A partir desse momento, feliz ou infelizmente, nascia o que hoje é o estilo de cerveja mais popular do mundo, movimentando bilhões de dólares em vendas de latinhas destinadas a ficarem estupidamente geladas e serem consumidas aos montes. Iniciou-se a adição de outros cereais, mais baratos, na produção de cervejas, deixando-as mais leves e , adivinhe, mais baratas, sendo preferidas em relação as demais pela população em geral. Podemos dizer que a primeira “receita” da escola americana foram as Standard American Lager, talvez por isso a rejeição deles como uma escola.
Tudo isso mudaria em 16 de janeiro de 1919, com a 18º emenda à constituição dos Estados Unidos, que proibia em todo o território americano a produção, venda, importação e exportação de bebidas alcóolicas em todo o país. As milhares de cervejarias, criadas e mantidas em sua maioria por imigrantes e seus descendentes, sumiram do mapa, e a destruição de milhares de barris e garrafas da bebida eram recorrentes.
Alguns anos se passaram e a medida foi revogada, por problemas de ordem política, mas o estrago já era evidente, além de medidas estaduais que ratificaram a proibição em várias regiões do país mesmo após a retirada da emenda, a grande maioria das cervejarias não tinham mais qualquer estrutura para voltar a fabricar a bebida. As maiores exceções eram, veja só, as produtoras das lagers leves, que a partir desse ponto se tornaram além da opção mais barata, basicamente, a única. Os anos passaram e cada vez mais as gigantes cervejeiras ganharam corpo, na mesma proporção que a bebida o perdia, até que um ponto mudou esse panorama.
Em 1978, o então presidente Jimmy Carter instituiu um decreto que liberava a produção artesanal da bebida em todo território americano. Os cervejeiros artesanais, que até então hibernavam em suas casas, resolveram correr atrás do prejuízo. O resultado disso é o que temos hoje, um país que respira cerveja artesanal, desde o trabalhador até, literalmente, o presidente (caso você não saiba, Barack Obama é um ilustre homebrewer, com receitas bem interessantes, diga-se de passagem). O crescimento das cervejarias nos anos 80 e 90 culminaram na estruturada e consolidada cultura cervejeira americana. Podemos citar dezenas de cervejarias que produzem cervejas esplêndidas, completamente inventivas e fascinantes.
Em relação às características das cervejas “americanizadas”, podemos dizer que elas destoam completamente do princípio do seu “outro lado da moeda”, as standard lager, que buscam o “menos” (corpo, sabor, graça…). O lema é “sempre mais”, mais malte, mais lúpulo, mais álcool, mais tempo de maturação, mais badalação. A excentricidade e o extremismo em suas cervejas é justamente o que angaria a maioria dos fãs, que buscam a mais amarga, alcóolica, complexa e rara. Além disso, a mistura de estilos e a adaptação de outros também é trabalhada muito bem nas terras americanas. Estilos como o India Black Ale (IPA com Stout/Porter), as Hopweizen (Weissbier com lúpulos), entre outras, são inspirações americanas que são seguidas inclusive por outros países.
Outra moda é a maturação em barris, “virgem” ou vinda de fábricas de outras bebidas, onde armazenaram e conservaram notas de destilados, como o Bourbon. Trazer notas amadeiradas ou mais alcóolicas as cervejas se tornou uma verdadeira obsessão dos americanos, que criam uma versão “oakaged” para boa parte dos rótulos produzidos.
Para finalizar, fiquem com a degustação de três rótulos da escola americana no vídeo a seguir:
Enfim, chegamos ao fim de nossa jornada pelas escolas cervejeiras. Espero que tenham gostado. Até a próxima.
Cheers!
Escolas Cervejeiras – Tudo sobre a Escola Americana | Cervejaria Edelbrau
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