Brejas da Bru

Saudade é Heineken no bar da Sta Cecilia – Brejas da Bru

Mas tudo que essa moça (eu) escreve sobre cerveja tem paralelo emocional?

É, tem. Como você pode amar uma cerveja se não tiver referência do sentimento no passado? Como você pode saber que ela tem aroma x se não conhece? Já falamos disso aqui no post anterior, experiência e resultado são baseados na memória. E, hoje, vou falar de saudade e oportunidade.

Já provei muitos rótulos que tinham acabado de chegar ao Brasil. Já deixei outros envelhecendo no meu armário de casa, esperando que o tempo trouxesse a maturidade que eles e o meu paladar precisavam para que a gente se entendesse. Alguns explodiram, me dando um trabalhão danado pra limpar. É como bola de chiclete quando estoura e gruda no cabelo, na hora você acha que vai dar certo. Já bebi cervejas terríveis de grandes amigos e incríveis de verdadeiros desconhecidos que eu não pude agradecer. Já paguei caro em cerveja que não valia e dispensei algumas que nunca mais terei oportunidade de provar.

Tive porre de Cafuza, tive Orval no gargalo, tive Founders na praia. Comprei muita promoção e deixei algumas vencerem por puro descuido. Aprendi a beber uma Cantillon, mas ainda apanho das de trigo. Elas empapuçam às vezes, assim como as palavras.

Aprendi a beber na faculdade e segui estudando de verdade. Fiz disso minha profissão. Cada garrafa que chega até mim, paga uma parte da minha conta no mês. O teu hobby é o trabalho de alguém do seu relacionamento. Seja gentil no julgamento do que está provando. Às vezes, ser sommelier/ cervejeiro é também entender que você precisa voltar algumas casas, pegar na mão de quem está começando ou errando, mostrar o caminho, orientar e respeitar. É lembrar que, grandes profissionais vão além das fotos de copo e das palavras vocíferas, segmentadas em hashtags, nas redes sociais. É entender que, quem está começando agora, tem o mesmo brilho nos olhos e aquela sede de viver tudo isso que você também sentiu no começo. Não que você tenha perdido essa paixão avassaladora, é que a paixão cedeu espaço ao amor. E sabe quando isso aconteceu? Quando você teve a certeza e a segurança da escolha que fez, a cada gole.

Você prova, reprova, repete, entende e escolhe. Ou não. E mesmo assim, está tudo bem. Só não pode perder a oportunidade de crescer. E como se faz isso? Dando chances. Não tem segredo, fórmula mágica ou pulo do gato. Se você quiser viver nesse mundo, seja com pessoas ou cervejas, elas são inevitáveis. Tudo é memória, lembra?

A maior lição que aprendi nesses anos de estudos é que, muito mais que uma cerveja impecável, o que transforma o seu sabor são as pessoas que estão envolvidas, seja no processo, na produção, na companhia, na lembrança, na entrega.

Então, hoje, mesmo com todos aqueles rótulos disponíveis na gôndola, os que eu tenho no armário, todos os cursos que fiz, toda conta que paguei escolhendo cada garrafa, toda paixão que senti a cada rótulo degustado, se você me perguntar, vou te dizer que, a minha saudade tem gosto de Heineken, num bar da Santa Cecília.

Tem horas que a gente tira o crachá de sommelier/ cervejeiro.

Mesmo que seja para beber cerveja.

Sobre nossa Colunista

Bruna Garcia

bruna garcia

Publicitária, beer sommelière, mestra em estilos, técnica em harmonização e responsável por cervejas no CluBeer.
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